Foto do nascimento de Antônio
Foto do nascimento de Antônio

Para não se sobrecarregar, a solução seria não ter filhos? Não casar?

Super respeito quem adota esse caminho como solução. Inclusive, passei uma década da minha vida adulta solteira e vivendo só para minhas vontades e, sim, tem muitas vantagens.

Depois, senti vontade de me relacionar novamente. Não de um lugar de falta/dependência ou de projetar o sonho da mulher casada. Isso não tem a ver comigo. Confesso: tenho muita dificuldade de chamar João de marido e não quero usar alianças. Não me conecto com esse padrão. Talvez, seja bem avessa a ele.

Embora se relacionar seja extremamente desafiador - e para quem é mulher ainda um risco de vida - também pode ser permeado de delícias, de muitas belezas. E ter um filho com quem você ama é muito, mas muito gostoso. E pode ser também repleto de dor. E pode ser dor e amor, tudo ao mesmo tempo.

Gosto quando Eckhart Tolle diz: relacionamentos não são para nos fazer felizes, são para nos fazer conscientes. E isso vale para todo e qualquer tipo de relação (com nossos pais, amigos, filhos). Inclusive, as relações abusivas.

Não quero culpabilizar ninguém porque há um peso cultural imenso. Mas, nós mulheres, aprendemos a ser tolerantes, dependentes e precisamos desaprender. E isso, consequentemente, nos torna vítimas mais fáceis de abusos, violências, sobrecarga. Pensando em arquétipos, há uma culpa de Eva e uma bondade de Maria que precisamos arrancar da gente.

Se os homens possuem desafios de se reeducar para a não violência e responsabilização, acredito que nós temos que desaprender a dar conta de tudo, de deixar sempre confortável para o outro, de assumir o que não é nosso. Essas transformações, embora tenham pesos bem diferentes - afinal, estamos sendo mortas - passam por abolir os papéis sociais de gênero. São eles os responsáveis, por exemplo, por sermos mais vítimas de doenças autoimunes e pela razão de os homens se suicidarem mais.

A nossa sobrecarga vem de muitos lados. No cuidado dos familiares mais velhos, no mercado de trabalho. Não casar e não ter filhos vai te livrar de uma boa porção, mas vai te privar de outras coisas. Tenho achado a experiência de ser mãe deliciosa. E eu nem tinha essa vontade. Dizer que uma mulher não deveria ter filhos para evitar a sobrecarga pode ser cruel com quem tem esse sonho. E o nosso desejo muda. A vida acontece. Lidar com esses desafios é inevitável. A solução do problema passa por outros lugares.

Ouvi no último fim de semana Di Melo cantar: a vida em seus métodos diz calma; vai com calma, você vai chegar; se existe desespero é contra a calma; e sem ter calma nada você vai encontrar. Sei de todas as transformações que já criei para minha vida (talvez não só a minha) e as que continuo criando. Não tenho poder de promover todas as mudanças que gostaria instantaneamente, nem para mim, nem para o planeta, nem para outro (ainda bem, né? porque não sei se julgo tudo certo o tempo todo).

No fim, também temos que aceitar o que é, do jeito que é, e construir onde dá para construir. Como sou da guerra, aceitar, ter mais leveza, talvez seja meu grande desafio. E como estamos na vibe de fim de ano, um dos meus desejos para o próximo é viver com mais calma e, ao mesmo tempo, impondo os limites necessários. E também entendendo os limites do outro. Uma equação difícil e necessária.

 

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