Por conta do feminismo, hoje tenho tripla jornada. Será mesmo?
Por conta do feminismo, hoje tenho tripla jornada. Será mesmo?

Por conta do feminismo, hoje tenho tripla jornada. Será mesmo?

Sim, tenho tripla jornada. Minha vida, principalmente depois que me tornei mãe, não anda fácil. E olhe, tenho muitos privilégios e ajuda. Se antes, algum dia, falei que estava sem tempo, não fazia ideia do que era não ter tempo.

Trabalho muito, todos os dias, e me preocupo mais com o futuro. Como mãe, temo pela segurança material do meu filho. Mas isso é culpa do feminismo? Então o correto seria João ser o único responsável por assegurar o nosso futuro? Para eu conseguir relaxar? Ou toda essa pressão e esses temores seriam devidos às estruturas, cada vez mais instáveis, do capitalismo?

E antes que venham me chamar de comunista, quero dizer: não sei se antes do capitalismo era necessariamente mais fácil. Talvez, em muitos aspectos, sim; em tantos outros, não. As lógicas de opressão são próprias do ser humano. Acredito que devemos evoluir nesse sistema que criamos, inclusive a partir dos nossos medos, nos tornando mais conscientes e menos mesquinhos.

Voltando à minha exaustão, à sua, à nossa: você acha mesmo que a solução seria depositar sua segurança na mão de um homem, como muitos perfis têm pregado? Nada contra quem escolhe esse caminho. Só indico fazer um bom contrato para que você não fique desacobertada. Porque o fato é: homens não são confiáveis.

Se nós, mulheres, construímos outro caminho que trouxe essa sobrecarga, foi porque precisávamos de segurança. Foi porque, além de historicamente nos explorarem e violentarem, muitos homens nos abandonavam, deixando famílias passando necessidade. Eu vi isso acontecer na minha família. Talvez você, mulher, também tenha visto na sua.

Porém, essa sobrecarga que acumulamos hoje não é saudável. Estamos exaustas e doentes física e emocionalmente. Mas isso é culpa do feminismo ou dos homens que são uns bananas? É culpa do feminismo ou dos baixos salários? Da inflação? Da dificuldade de comprar uma casa? Eu, por exemplo, ainda não consegui comprar uma casa.

Já tive infinitas brigas com João por conta da minha sobrecarga. Já falei algumas vezes, em tom de ameaça: se sou eu a responsável por me preocupar com tudo o que precisa ser feito, tipo comprar fralda, fazer supermercado, marcar médico e outras tarefas chatas, você paga 80% das contas e eu pago só 20%. Porque todas essas coisas são trabalho e tiram meu tempo de ganhar dinheiro.

A sobrecarga das mulheres nas relações heteronormativas, pela incapacidade e falta de vontade de muitos homens em fazer o que precisa ser feito, tirando os efeitos perversos do capitalismo, é o problema central. E aí, podem haver vários acordos nas relações, considerando que os trabalhos precisam ser equacionados. Quem paga mais, quem faz mais, quem assume a tarefa A ou B.

Como meu homem está longe de estar plenamente consciente do problema (está em processo), tenho travado algumas guerras. O que não dá é para acumularmos essa sobrecarga e pronto. Nem tampouco voltar para um lugar de submissão. Lembrem-se: quem tem dinheiro, tem poder. Principalmente poder de escolha. De ficar ou poder sair de uma relação, por exemplo. E isso, para as mulheres, também é sobrevivência.

 

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